terça-feira, 25 de março de 2008

Fritz D'Orey completa 70 anos

     Muitos não sabem quem foi Fritz D'Orey. Nascido em São Paulo em 25/03/1938, o brasileiro Fritz D'Orey completa hoje 70 anos, disputou 3 GPs de Fórmula 1 em 1959, e o máximo que conseguiu foi um 10º lugar, no GP da França 1959.
 
     Frederico José Carlos Themudo D’Orey, filho de imigrantes portugueses, descendentes de alemães. Morando no bairro Jardim Europa e estudando no Colégio São Luiz ganhou o apelido de Fritz devido à sua ascendência germânica. Seu pai, empresário do ramo de importações tinha a exclusividade de importação dos carros Packard, Hudson e Renault para a América do Sul, a loja chamava-se Auto-Geral, na Rua Barão de Campinas em São Paulo e com filiais em várias cidades. Foi nesse ambiente que Fritz cresceu e naturalmente apaixonou-se por carros, passando a freqüentar assiduamente o Autódromo de Interlagos.
 
     Diz que sua primeira corrida foi aos 17 anos a bordo de um Jaguar XK, em Interlagos, onde organizavam-se corridas extra-oficiais todo final de semana. Seus pais sabiam de sua paixão e conhecendo os riscos não o apoiavam: "porque era um perigo mortal. Morria alguém todo final-de-semana nas pistas, e claro, não havia nada de guard-rails, santo-antonio, nem cinto de segurança usávamos!".
 
     Mas não o impediram, no entanto, de aos 19 anos estrear numa competição oficial em Interlagos. Correu com um Porsche comprado de Christian Heins e que havia sido trazido ao Brasil pelo piloto alemão Hans Stuck. Venceu, e aí não parou mais, teve uma carreira vitoriosa e meteórica, em menos de 2 anos já estava na Europa, fato inédito na época.
 
     Com esse Porsche participou de outra prova e nas II Mil Milhas Brasileiras, ainda em 1957, participou em dupla com Luciano Bonini a bordo da carretera Ford nº 30 deste, não concluíram a prova por quebra mecânica.
 
     Com sua Porsche foi ao Rio de Janeiro disputar a Prova Prefeitura do Rio de Janeiro na Quinta da Boa Vista e chegou em 2º lugar, atrás apenas de Arthur Souza Costa, que era marido da cantora Emilinha Borba.
 
     Já com 20 anos, em 1958, compra o carro com que se consagra no automobilismo brasileiro, a Ferrari/Corvette 1951, Mecânica Nacional, de Celso Lara Barberis, e que Chico Landi havia ganho de Getulio Vargas, passa a correr pela Equipe Tubularte de José Gimenez Lopes e Chico Landi. Com esse carro Celso havia vencido a primeira edição dos 500 Quilômetros de Interlagos e Fritz venceu a segunda edição.
 
     Na prova seguinte, a inauguração do “Circuito da Barra da Tijuca” vinha liderando com folga, mas uma parada nos boxes para pequenos reparos tirou-lhe a chance de vencer, foi 2º, mas fez a melhor volta da prova.
 
     Novamente participa das Mil Milhas, mas agora pilotando o Volks/Porsche do piloto “Bira” (Lauro Bezerra), disputando com carreteras com mais que o dobro de cilindrada e potencia, chegam em 9º lugar em virtude da bateria ter caído e ter quebrado o pára-brisa, aí era pedrisco no rosto sempre que estavam atrás de outro carro. A prova seguinte foi a primeira etapa do “I Torneio Triangular Sulamericano” em Interlagos, prova que contou com 11 pilotos, brasileiros, argentinos e uruguaios. Liderou a prova até o inicio da 9ª volta quando um pneu furou, então teve que percorrer quase a pista toda (a antiga, de quase 8 km) para parar nos boxes e fazer a troca, ainda assim chegou em 4º lugar e fez a melhor volta da prova.
 
     Em seguida faz sua última prova em solo brasileiro, o “II Circuito da Barra da Tijuca” quando vence novamente, desta vez a bordo de uma Ferrari 750 Monza 3.0 da categoria esporte, cedida por José Gimenez Lopes da Tubularte.
 
     Depois dessa prova já em 1959 foi ao Uruguai e Argentina participar das etapas seguintes do “I Torneio Triangular”. Na prova de Buenos Aires lá estava Juan Manuel Fangio, penta-campeão mundial de Fórmula 1, que havia parado de correr no ano anterior, observando. Fritz liderou a prova até que faltando 9 voltas quebrou o eixo de seu carro, mas sua atuação chamou a atenção de Fangio que o II Circuito da Barra convidou a participar da equipe de F1 que estava montando para correr na Europa, era a “Scuderia Centro-Sud” que teria 1 piloto argentino, 1 uruguaio e Fritz seria o brasileiro. Dos três o único a correr foi Fritz, os outros não passaram dos testes. Foi o quarto brasileiro a correr na F1, antes dele foram: Chico Landi entre 1951 e 1956, Gino Bianco em 1952 e Hernando da Silva Ramos entre 1956 e 1957, mas Fritz correu também em outras categorias (Esporte, GT, Subida de Montanha e Fórmula Jr.).
 
     "Havia corridas em todos os lugares, de todas as categorias, e os pilotos não ganhavam salário mas sim prêmios de largada. Os organizadores davam uma determinada quantia de dinheiro que só dava para pagar o hotel, a alimentação e as viagens. Competíamos por amor ao esporte, não tinha nada de dinheiro, era sentar no carro e acelerar", disse D'Orey.
 
     Na Europa, com 21 anos, em Modena (terra do preparador Vittorio Stanguellini) hospedado no “Albergo Real-Fini”, onde ficavam vários outros pilotos, passou os três primeiros meses com Fangio absorvendo conhecimentos daquele que era uma verdadeira lenda viva do automobilismo mundial. Comprou uma Ferrari 250 GT e com ela participou do “Grande Premio da Loteria” em Monza, sua estréia em corridas na Europa, chegou em 7º lugar.
 
     Semana seguinte estreava na F1: “Grande Premio da França”, disputado em Reims, usando uma “velhusca” Maserati 250F, terminou em 10º lugar. No próximo final de semana participa de uma prova de Subida de Montanha em Trento-Bondone, na Itália, com sua Ferrari e tira o 2º lugar.
 
     Mais uma semana e estava participando de outra prova da F1, desta vez o Grande Premio da Inglaterra, disputado em Aintree, teve um acidente com a Maserati 250F na volta 57 e abandonou quando estava em 15º.
 
     Na prova seguinte, o GP de Berlim, Alemanha, convidado por seu amigo Jean Behra guiou um Porsche 1500RS da fábrica, na categoria esporte, mas devido as fortes chuvas acidentou-se e não concluiu a prova, seu amigo Jean não teve a mesma sorte, faleceu num outro acidente na mesma prova.
 
     Nos dois finais de semana seguintes participa de provas de Subida de Montanha e chega em 2º com sua Ferrari e em 3º com um Fiat/Stanguellini. Faz em seguida algumas corridas de Fórmula Junior com um Fiat/Stanguellini, estreando com uma vitória na corrida de Messina, na Itália, corrida em que outro brasileiro, Christian Heins, chegou em 2º lugar.
 
     No final de 1959, com pouco mais de 21 anos e duas participações na Fórmula 1, vai para Sebring, Estados Unidos, participar de duas provas, uma de F-Jr, onde chega em segundo, e também do I GP dos EUA de F1, mas agora pela equipe Camodari USA, pilotando um carro Tec-Mec. Na sétima volta abandona com um vazamento de óleo. Com essa prova encerra suas participações na Fórmula 1.
 
     Ano seguinte, já com 22 anos, dá inicio à sua temporada novamente em Sebring, EUA , participando das “12 Horas de Sebring” numa Ferrari 250GT SWB com Willian Sturtgis, chegaram em 6º lugar na geral e em 4º na categoria Esporte abaixo de 3.0. Foi o primeiro brasileiro a participar dessa prova.
 
     Convidado a correr pela equipe Sereníssima de Giovanni Volpi, uma espécie de equipe 2 da Ferrari, é inscrito para disputar a 28º Edição das tradicionais “24 Horas de Le Mans” dividindo uma Ferrari 250 GT SWB com Carlo Maria Abate e Gianni Balzarini, mas nos treinos Fritz se acidentou: “Foi no meio da reta, antes da Maison Blanche, meu carro foi fechado por uma Jaguar, saiu da pista a uns 270 km/h, bateu numa árvore, de lado, partindo-se ao meio, e eu fiquei jogado no meio do mato, ao lado da pista. Por conta disso passei 8 meses internado num hospital e minha carreira acabou”.
 
     É interessante que vários jornais ao redor do mundo chegaram até a noticiar sua morte. Sofreu traumatismo craniano e como os médicos o aconselharam a não viajar ficou morando em Paris, por dois anos, onde trabalhou como fotógrafo e acabou casando-se com a filha do embaixador da Suécia. Voltou ao Brasil em 1962 e foi trabalhar na empresa do pai em São Paulo, onde ficou até seu pai falecer e em 1970 fechou a empresa, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1971 e abriu uma construtora em 1975, depois que se aposentou morou uma temporada em Paris (1996 à 2001) voltou ao Brasil e foi morar em Copacabana no Rio de Janeiro. Foi casado três vezes e tem cinco filhos, mora atualmente no bairro de Ipanema.

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