sábado, 4 de julho de 2015

Histórias da F1 (8): GP da França 1954

4 de julho de 1954: há exatos 61 anos, o sr. Birabongse Bhanudej Bhanubandh, um homem do Sião (atual Tailândia) preferiu simplificar: ficou reconhecido internacionalmente como Bira. Contudo, não era um Bira qualquer: ele era príncipe de seu reino. Nascido em 15 de julho de 1914, em Bangcoc, o monarca embarcou para a Inglaterra em meados da década de 1920 junto com outros dois irmãos. O objetivo: estudar para administrar o país. Em Londres, porém, o príncipe foi arrebatado pelo automobilismo. Uma paixão sem igual. O príncipe siamês, então, passou a se dedicar às corridas de Grand Prix (provas automobilísticas que antecederam a Fórmula 1, criada em 1950).

Príncipe Bira se tornou um piloto de destaque no automobilismo europeu. Obteve algumas vitórias e muitos pódios em corridas na década de 1930 e 1940. Com a criação da Fórmula 1, o tailandês tratou de desafiar os grandes pilotos da época. Os resultados se minguaram. Raros foram os momentos de glória. O de maior destaque veio naquele 4 de julho de 1954, em Reims, na França. A bordo de um Maserati, o Príncipe se viu contra os fabulosos Mercedes W196. Era a estreia da escuderia alemã na Fórmula 1. Contando com o mítico Juan Manuel Fangio e o alemão Karl Kling, as “flechas de prata” figuraram com os melhores tempos da classificação. Bira, por sua vez, obteve o ótimo sexto lugar na tomada de tempo.

Na largada do GP da França, Bira caiu para o oitavo lugar. Na frente, Kling surgiu na ponta, seguido por Alberto Ascari (Maserati) e Fangio. Com o abandono por problemas de motor de Ascari, bicampeão em 1952 e 1953, e com a ultrapassagem sobre o argentino Roberto Mieres (Maserati), o tailandês retomou a sexta posição. Porém, na passagem seguinte, o terceiro carro da Mercedes daria o ar de sua graça com o alemão Hans Herrmann, e a flecha de prata deixou Bira com o sétimo lugar.

A ascensão do príncipe siamês começaria na volta 10, graças ao abandono do inglês Mike Hawthorn (Ferrari). Na sexta posição, Bira passou a duelar ferozmente com o francês Maurice Trintignant (Ferrari). A cada volta, o tailandês da Maserati e o francês da Rossa trocavam de posições. A briga se encerrou na volta 20, quando Bira se impôs diante Maurice. Na mesma passagem, o argentino Onofre Marimón enfrentou problemas de câmbio em seu Maserati e caiu para último. Antes, José Froilan González (Ferrari) e Herrmann já haviam deixado a disputa. Em suma: o Príncipe era terceiro, atrás somente de Fangio, o líder, e Kling, o segundo.

A disputa acirrada pela liderança da prova em Reims fez com que muitos pensassem num choque entre o argentino e o alemão da Mercedes. Era a teoria do improvável, que culminaria na vitória de Bira. A chuva aumentou o grau de dificuldade da corrida, e também deixou o tailandês da Maserati em maus bocados. O ritmo do príncipe caiu, enquanto as flechas de prata dispararam. Na volta 39, o francês Robert Manzon (Ferrari) ultrapassou o tailandês.

Com o passar do tempo – e da chuva -, a pista de Reims foi secando. E o bom desempenho de Bira foi reaparecendo. Tanto que, na penúltima volta, o tailandês superou o francês da Ferrari. O pódio estava em suas mãos. Todavia, na 60ª e última volta, Manzon bateu o príncipe e obteve o terceiro lugar. Lá na frente, Fangio levou o GP da França por somente 0s1 de vantagem sobre Kling. Foi a primeira vitória da Mercedes na história (com o argentino) e o primeiro pódio de um alemão na categoria (com Kling).

O domínio das flechas de prata e o pódio perdido na última volta reduziram o feito de Bira: o quarto lugar foi seu melhor resultado na Fórmula 1. Era também o ápice de um tailandês na categoria – também pudera, ele foi o único do país asiático a alinhar no grid. O príncipe siamês deixou a Fórmula 1 em 1955 e passou a se dedicar aos seus negócios e à prática de vela – participou de quatro Olimpíadas (Melbourne-1956, Roma-1960, Tóquio-1964 e Munique-1972). Bira morreu em 1985, em Londres, após um infarto fulminante. Mas sua passagem pelas pistas deixa marcas até hoje.



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